sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Soltas

Hoje tento ser como pedra,
de tudo em redor abstraída.
Não pensa. Não julga. Não condena.
Somente existe na vida.
Hoje quero fugir daquele robot
que, entre ímanes, viaja descontrolado.
Mais que um bocado de ferro eu sou,
mas continuo a sentir-me arrastado.
Estas forças que me impelem
baralham-me tanto as ideias...
Mas nos dias que se sucedem
serei imune até ao canto das sereias.
E todo este volume,
que sempre me sobrecarrega,
hoje vai servir de estrume
e fertilizar a calmaria que me sossega.
Pensar, mal não deveria fazer
mas, não o sabemos purificar.
Por isso, não quero os pensamentos a crescer.
Não quero os pensamentos a dominar.
Por tanto aos pensamentos dar
é que me custa tanto agir.
Se parar de pensar
talvez me consiga decidir.
Talvez pare de me convencer...
Talvez pare de me iludir
de que, para feliz ser,
preciso de te descobrir
Por isso, vai-te foder!
Estou farto de te necessitar!
Agora sou eu que me vou esconder!
Jamais me irás encontrar.

Sinto um fervor
no meu peito
sempre que te vejo.
Ó querida vida, por favor,
não me deixes deste jeito.
Não aguento tanto calor!
Dá-me lá um bom extintor!
Preciso de arrefecer
estas alucinadas ideias.
Estou a enlouquecer
com o canto das sereias.
Não sei que mais fazer
para concluir as minhas epopeias.
Todo eu já tenho teias
de, ao meu lado, nunca a ter!
E esta falta de tacto a crescer...
Quero um novo marco erguer!


Tenho uma noção de belo à parte.
Gosto de falar e de estar calado.
Tento viver a minha arte.
Estou em todo o lado,
e a rir-me deste louco fado,
como um verdadeiro Merlin.
Em cada palavra um feitiço lançado.
E é tão bom ser assim.
Só é pena viver, alucinado,
numa floresta imaginária.
Mas deve ser melhor que, frustrado,
numa selva solitária.

Sem comentários: